quarta-feira, 25 de julho de 2012

Seu Zé, o homem do dia

Seu Zé é uma pessoa que acorda cinco e meia da manhã para trabalhar. Casualmente, eu o encontro no metrô logo de manhã. Pode ser quarta-feira, sexta feira, ou até segunda-feira, e ele está sempre assim, com um sorriso enorme e uma boa disposição de dar inveja a qualquer um.

Num desses dias, no metrô, eu perguntei a ele o que fazia para ter toda aquela disposição logo cedo. Ele me disse que o único exercício que fazia diariamente era: pegar dois ônibus lotados para chegar ao metrô.

- Não é possível, se fosse comigo, andar tanto assim só me deixaria mais cansado e estressado – comentei com ele.

Seu Zé deu risada, para ele tudo aquilo era normal. Pedi a ele que me falasse do seu dia a dia, do seu trabalho – a curiosidade crescia, não era possível, alguma coisa em sua vida lhe dava motivos para tanta disposição e felicidade.

- Eu durmo lá pelas onze horas da noite, acordo cinco e meia da manhã, sento na cama sonolento, está é a pior parte. Depois coloco o chinelo e vou tomar banho – disse continuando – então troco de roupa, acordo minha mulher e meus filhos, preparo o café, dou comida para o cachorro e vou trabalhar.

- O que mais? – perguntei desconfiado.

- Pego dois ônibus para chegar até o metrô, depois pego o metrô e pronto! Estou no serviço – disse enfatizando o “pronto” como se fosse tudo tão simples. – Às vezes, chego atrasado e tomo uma bronca do meu chefe, mas isto é de vez em quando.

Eu sabia onde seu Zé trabalhava. Ele era um homem simples, ganhava pouco, trabalhava como ascensorista em um prédio no centro de São Paulo. Mais um motivo para me interessar pela sua história, seu jeito não condizia com o de uma pessoa com uma vida assim numa cidade grande.

- No outro dia eu acordo e começo tudo de novo, talvez sem a bronca do chefe, sem chegar atrasado, mas minha vida é assim todos os dias – completou sorrindo.

“Próxima estação Sé” avisou a voz pelo alto-falante do trem. Seu Zé se levantou preparando-se para descer na próxima estação. Já eu, estava desistindo da curiosidade.

Seu Zé arrumou o uniforme, ajeitou a sua mala apoiando-a no braço esquerdo e pouco antes do trem chegar à estação, antes de se despedir, ele me disse:

- Antigamente, quando acordava, a primeira coisa que fazia era ficar pensando em como o dia poderia ser para mim, o que deveria fazer naquele dia. Mas logo pela manhã, eu acabava me frustrando, pois tudo saía diferente do que eu havia planejado e esperado.

“Até que um dia, ao já acordar frustrado pelo dia que viria, tive uma idéia. Ao invés de ficar pensando em como seria o dia eu resolvi fazer uma experiência, resolvi aceitar aquele dia do jeito que fosse.”

“Nunca vivi um dia tão maravilhoso e cheio de surpresas. E o melhor de tudo é que, ao aceitar aquele dia, me senti feliz e completo. Então, desde aquele dia, todos os dias quando acordo, não me pergunto mais como o dia será para mim, mas sim como eu serei para o dia.”

O trem abriu as portas, seu Zé desceu e foi embora rumo ao seu trabalho, mas não antes de dar aquele adeus acompanhado de seu sorriso de sempre.

Seu Zé... Homem trabalhador... Homem feliz... Homem do dia.

Nenhum comentário: